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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Trabalho sobre fontanários do concelho de Beja

Introdução

Este trabalho foi-nos proposto com o intuito de ser possível classificar quatro fontanários do concelho de Beja quanto a alguns parâmetros que podem por em causa a saúde do consumidor, e também procurar justificação para os valores encontrados com base na zona envolvente dos fontanários. Estes fontanários foram relacionados com base na frequência de utilização e proximidade.
Ao longo deste trabalho vamos fazer referência também à natureza e efeitos e prejuízos associados aos parâmetros organolépticos e físico-químicos encontrados, comparando os valores obtidos, tanto nas análises de laboratório como nas análises em campo, com a legislação em vigor.


Enquadramento Legal

Nos dias que correm muitas são as pessoas que ainda recorrem a fontanários para recolher água para consumo humano, a convicção que existe ainda é que a água destes pontos é de boa qualidade e muitos pensam que têm efeitos terapêuticos.
Este trabalho tem como objectivo avaliar a água de quatro fontanários do concelho de Beja e comparar com a legislação em vigor, Decreto-Lei 306/2007, de 27 de Agosto, e tentar perceber se os parâmetros analisados estão dentro  dos limites e se esta água é realmente própria para consumo humano. É importante referir que a água de fontanários não sofre qualquer tipo de tratamento.


Colheitas de água
Data da colheita: 10/03/2014

Numa primeira visita aos locais foram efectuadas colheitas de água, que posteriormente foram encaminhadas para o laboratório. As colheitas efectuadas tinham como objectivo as:

Análises Microbiológicas;

Figura 1 - Frascos para colheita de parâmetros microbiológicos

Análises Físico-químicas;

Figura 2 - Frascos para colheita de parâmetros Físico-químicos

- Análises à dureza da água;

Figura 3 - Frascos para colheitas à dureza da água

- Análises a metais

Figura 4 - Frascos para colheitas a metais

O acondicionamento dos frascos é feito numa mala térmica que permita o transporte até ao laboratório, mantendo uma temperatura constante e adequada.

Figura 5 - Mala térmica

Os parâmetros que se determinaram no local no seguimento desta colheita foram a temperatura e o cloro residual livre (para despiste de tratamento e desinfecção).

Figura 6 - Análise de parâmetros

Numa segunda visita foram efectuadas análises de campo aos seguintes parâmetros: Cloro residual livre, condutividade, pH, nitratos e temperatura.


Data da colheita: 27/3/2014

- Cloro residual livre

O recurso ao cloro, utilizado como desinfectante no controlo da contaminação microbiana da água de abastecimento para consumo humano, é a técnica geralmente mais utilizada pelos distribuidores de água.
A aplicação de cloro é feita até se atingir o chamado ponto de equilíbrio (break point), ou seja, o cloro é adicionado à água, reagindo com alguns dos compostos presentes mas permanecendo uma fracção de cloro residual, destinada a garantir que o desenvolvimento de microrganismos não se virá a verificar posteriormente, ao longo do percurso desde a estação de tratamento até ao consumidor. O consumidor, tendo embora sensibilidade diferente quanto ao sabor e cheiro a cloro que o tratamento provoca, não aceita facilmente o "sabor a lixívia".

Efeitos e prejuízos associados

Normalmente, não são referidos grandes episódios de toxicidade para o ser humano, face às quantidades de cloro presentes na água para consumo humano. Algumas colites e acidentes patológicos poderão estar ligados a essa situação. Contudo, o cloro residual desaparece rapidamente no tubo digestivo pela ação conjugada da saliva e do suco gástrico. O limiar do sabor na água situa-se em geral na proximidade de 0,2 mg/L. 

Figura 7 – Colorímetro - Pocket II Cl2

- Condutividade

A condutividade eléctrica de uma água permite avaliar, de uma forma rápida e global, o seu grau de mineralização. Este facto resulta da relação existente entre o teor em sais minerais dissolvidos na água e a resistência que ela oferece à passagem da corrente electrónica. Essa resistência pode ser expressa quer pela resistividade, quer pela condutividade, inversa da primeira. Além de depender do quantitativo de substâncias solubilizadas na água, em geral da forma iónica, ela varia, também, com a temperatura.
A origem desses sais é diversa. Parte por resultar de processos de lixiviação dos solos, tal como carbonatos, bicarbonatos, sulfatos, cloretos, nitratos ou outros solúveis, de cálcio, magnésio, sódio, potássio entre outros metais. Outra parte pode provir de efluentes e resíduos agrícolas e/ou industriais, que contaminam essas águas. No caso das águas superficiais, pode ainda verificar-se a contaminação dessas massas de águas por sais, veiculados por via atmosférica.

Efeitos e prejuízos associados

A condutividade não representa, em si mesma, um problema para a saúde do consumidor, desde que os limites máximos não sejam atingidos, dado o seu carácter não especifico.
Contudo, alguns dos componentes podem, em função da sua natureza e características especificas, originar riscos para esse mesmo consumidor.
Uma mineralização elevada da água pode traduzir-se sob a forma de sabores desagradáveis, de processos de corrosão, ou de formação de depósitos.
Obviamente que a condutividade afecta profundamente a capacidade de uso de uma determinada água para fins não de consumo, como, por exemplo, para rega ou para usos industriais.

Figura 8 – Medidor de Condutividade e Temperatura - M198311

- pH

O pH de uma água representa uma medida da sua acidez (ou da sua alcalinidade), traduzida pela concentração de hidrogeniões e influenciada pelo carácter tampão que lhe confere.

Efeitos e prejuízos associados

Os efeitos do pH da água de consumo, atendendo à gama de variação e observada, não têm (aparentemente) efeitos directos sobre a saúde do consumidor.
O seu controlo é, porém, importante, no que respeita, por exemplo, ao controlo da corrosão e da dissolução de metais e à formação de incrustações, em canalizações e acessórios com os quais a água contacta.
Além disso, são relevantes as inter-relações com o ciclo do cálcio e parâmetros associados: anidrido carbónico, dureza, alcalinidade, temperatura, cálcio e magnésio.
Valores do pH inferiores a 7 (ácidos) podem originar processos por vezes graves de corrosão de tubagens metálicas, que eventualmente se traduzem depois da existência de teores elevados de chumbo, cádmio, ou de outros metais pesados, presentes por essa causa nas águas de consumo.
Quando os valores de pH são superiores a 8 (alcalinos), alguns inconvenientes são previsíveis. Assim, a eficiência da desinfecção pode ser diminuída, por alteração das formas de cloro presentes, pode ser aumentada a formação de incrustações e podem desenvolver-se sabores ou cheiros intensos, desaconselháveis, do ponto de vista do consumo.

Figura 9 – Medidor de pH e Temperatura - M198127

- Nitratos

Considera-se os nitratos um dos constituem, por um lado, um componente essencial à formação da biomassa das plantas e animais, e, por outro lado, funcionam como um poluente importante das águas superficiais e subterrâneas, utilizadas para produzir água para consumo humano.
Os múltiplos e variados compostos azotados ligados à vida, tais como proteínas, aminoácidos, ácidos nucleicos, etc., dão lugar, em meios arejados, no decurso dos processos biodegradativos, à formação de compostos progressivamente mais oxidados, que culminam nos nitratos.

 Efeitos e prejuízos associados

A presença de teores elevados de nitritos e nitratos na água para consumo humano pode originar problemas sanitários graves, nomeadamente no caso de bebés, que não têm ainda os sistemas enzimáticos completamente desenvolvidos. Desde há bastantes anos que são conhecidos casos de uma doença designada por "metahemoglobinémia infantil", devida ou à ingestão de alimentos ricos em nitratos, ou preparados com águas onde os teores naqueles compostos sejam elevados (superiores a 50mg/L). O problema é, contudo, mais complexo, uma vez que são também conhecidos acidentes com teores mais baixos, devido a predisposição genética de algumas crianças.
Contudo, é importante ter em conta que a situação não está diretamente ligada aos teores em nitratos, mas sim aos teores de nitritos deles resultantes por um processo de redução. São estes que se associam a hemoglobina, formando um complexo estável. A sua hidrólise depende da atividade de uma enzima específica, que nos mamíferos jovens não atinge os níveis adequados. Daí um bloqueio, ao nível de reoxidação da carboxihemoglobina, do qual pode resultar a morte dos bebés por asfixia, acompanhada por uma coloração azul característica (cianose).

Figura 10 – Medidor de Nitratos - DR820

- Temperatura

A temperatura de uma água potável deverá ser, no inverno, superior à temperatura do ar, e no verão inferior àquele valor. Os valores afixados dependem, por isso da região considerada. No caso de Portugal, adoptaram-se os valores de 12ºC e de 25ºC, embora existam variações dos valores reais em torno dos valores "teóricos".

Efeitos e prejuízos associados

A temperatura da água, situando-se nos limites de variação anteriores no momento do consumo, não tem efeitos directos na saúde do homem.
O uso de uma água cuja temperatura se situe abaixo de 12ºC tem, a nível de tratamento, alguns inconvenientes, nomeadamente porque diminui a eficiência da desinfecção, aumenta a viscosidade da água e diminui as velocidades de sedimentação e de filtração.
Se, pelo contrário, a temperatura da água for superior ao desejável, o crescimento microbiano é acelerado, podendo induzir problemas de formação de sabores e gostos anormais, ou de corrosão das tubagens e equipamentos.
Além disso, diminui o valor do pH óptimo para a floculação, e pode aumentar a taxa de formação de trihalometanos, ao aplicar-se cloro à água, na presença de resíduos de matéria orgânica.

Figura 11 – Medidor de Temperatura - HI 9812

Caracterização dos locais e análise de resultados:

Penedo Gordo - Cavadas

De acordo com o boletim de análise do fontanário em questão, os resultados cumprem com os Valores Máximos Admissíveis estabelecidos no Decreto-Lei 236/98, 1 de Agosto, mas comparado com o Decreto-Lei 306/2007, de 27 de Agostosendo este o decreto que regula a qualidade da água para a água de consumo humano os resultados apresentados a negrito são incumprimentos.


A presença de bactérias coliformes mostra que esta água tem contaminação fecal o que a torna inaceitável para consumo humano. É importante referir que esta água não sofre qualquer tipo de tratamento.

Os resultados das análises de campo apresentam-nos os seguintes valores:

Cloro Residual Livre: 0 mg/l
Nitratos: 31.874 mg/l NO3
Temperatura: 17,6º C
Condutividade: 335µS/cm
pH: 7,56

NOTA: Como esta água não sofre tratamento a presença de cloro vai ser nula, sendo este um desinfectante como já foi antes referido.

Caracterização da zona:

A zona onde está inserido o fontanário é uma área maioritariamente agrícola, com focos de contaminação não detectados. No entanto a justificação da presença de Bactérias coliformes pode dever-se à forma como aqueles campos são fertilizados (estrume). É importante referir que não existe sinalização onde avise a população do controlo da água nem nenhuma proibição quanto ao consumo da mesma.

Figura 12 - Zona envolvente - área agrícola
Figura 13 Ponto de colheita

Figura 14 - Zona envolvente - arranjo exterior

Figura 15 – Zona envolvente - linha de água

Santa Clara do Louredo - Fonte do Anjo

De acordo com o boletim de análise do fontanário em questão, os resultados não cumprem com os Valores Máximos Admissíveis estabelecidos no Decreto-Lei 236/98, 1 de Agosto. O parâmetro que está fora do que está estabelecido na legislação é Nitratos. Comparado com o Decreto-lei 306/07, de 27 de Agosto, sendo este o decreto que regula a qualidade da água para a água de consumo humano os resultados apresentados a negrito são incumprimentos.


De acordo com o Decreto, que regula os parâmetros da água para consumo humano, a presença de nitratos acima de 50 mg/l pode  associar-se a problemas sanitários graves, nomeadamente no caso dos bebés, que não têm ainda os sistemas enzimáticos completamente desenvolvidos. Em relação às bactérias coliformes, como já foi referido, no Decreto-Lei nº306/2007 regula que não pode haver presença destes na água e neste caso encontram-se 12 UFC/100 ml o que representa contaminação fecal. A água deste fontanário é impropria para consumo humano.

Os resultados das análises de campo apresentam-nos os seguintes valores:

Cloro Residual Livre: 0 mg/l
Nitratos: 29,218 mg/l NO3
Temperatura: 17,9º C
Condutividade: 921 µS/cm
pH: 7,15

(NOTA: a análise a que o boletim se refere realizou-se num dia diferente do dia das análises de campo)

Caracterização da zona:

A zona envolvente deste fontanário é maioritariamente agrícola campos de hortas e pastagem de animais, e como já foi referido anteriormente a explicação de se encontrar contaminação fecal pode dever-se ao facto ou de utilizarem fertilizantes naturais, o estrume ou até mesmo por dejectos animais. Existe alguma poluição tanto na zona envolvente, poluição que também se verifica na própria água.
Sendo os nitratos um componente essencial à formação da biomassa das plantas e animais, é, por outro lado, funcionam  um poluente importante das águas superficiais e subterrâneas
No que toca a sinalização, existe aquela que nos informa de que a água em questão não é controlada, e existe ainda uma proibição para lavagem de carros.

Figura 16 - Sinalização

Figura 17 – Ponto de colheita

Figura 18 - Zona envolvente - criação de animais

Figura 19 Zona envolvente

Figura 20 Zona envolvente - lavadouro
 Salvada - Fontes Velhas

De acordo com o boletim de análise do fontanário em questão, os resultados não cumprem com os Valores Máximos Admissíveis estabelecidos no Decreto-Lei 236/98, 1 de Agosto. O parâmetro que está fora do que está estabelecido na legislação é Nitratos. Comparado com o Decreto-lei 306/07, de 27 de Agosto, sendo este o decreto que regula a qualidade da água para a água de consumo humano os resultados apresentados a negrito são incumprimentos.


A presença de  Bactérias coliformes e de  E.coli  na água deste fontanário indica que existe uma contaminação fecal. Os microorganismos viáveis a 22ºC e a 37º C, não significam que  exista má qualidade da água, pois estes indicam se o tratamento é eficaz ou não, mas neste caso não existe qualquer tipo de tratamento. Os nitratos acima de 50 mg/l pode  associar-se a problemas sanitários graves.

Os resultados das análises de campo apresentam-nos os seguintes valores:

Cloro Residual Livre: 0 mg/l
Nitratos: 46,040 mg/l NO3
Temperatura: 16,7º C
Condutividade: 999 µS/cm
pH: 7,25

NOTA: a análise a que o boletim se refere realizou-se num dia diferente do dia das análises de campo

Caracterização da zona:

A zona envolvente a este fontanário é composta basicamente por habitações e pequenos campos agrícolas, estando ligeiramente poluída. Este fontanário está sinalizado quanto ao facto da água não ser controlada. Se existe contaminação fecal, ou existe campos agrícolas onde são utilizados fertilizantes de naturais ou pode existir pastagens próximas à linha de água, contaminando-a.

Figura 21 - Sinalização

Figura 22 - Zona envolvente

Figura 23 - Zona envolvente (traseiras do fontanário)

Figura 24 -Ponto de colheita

Santa Clara do Louredo - Poço da Malta

De acordo com o boletim de análise do fontanário em questão, os resultados cumprem com os Valores Máximos Admissíveis estabelecidos no Decreto-Lei 236/98, 1 de Agosto. Comparado com o Decreto-lei 306/07, de 27 de Agosto, sendo este o decreto que regula a qualidade da água para a água de consumo humano os resultados apresentados a negrito são incumprimentos.


Neste fontanário ressalta a má qualidade da água observada pois existe em quantidades significativas a presença de Bactérias coliformesE. coliClostridium perfringens e Enterococos sendo estes os microrganismos mais resistentes fora do hospedeiro e mais susceptíveis de serem transmitidos pela água.

Os resultados das análises de campo apresentam-nos os seguintes valores:
 Cloro Residual Livre: 0,02 mg/l
Nitratos: 44,713 mg/l NO3
Temperatura: 17,4º C
Condutividade: 724 µS/cm
pH: 7,27

NOTA: a análise a que o boletim se refere realizou-se num dia diferente do dia das análises de campo

Caracterização da zona:
A zona envolvente a este fontanário são campos agrícolas e uma IP e está muito poluída. Existe a sinalização de que a água é imprópria para consumo.

Figura 25 - Sinalização

Figura 26 - Zona envolvente

Figura 27 - Ponto de colheita

Conclusão

Tendo concluído este trabalho, podemos afirmar que hoje em dia ainda é necessário atuar muito na mudança de mentalidades quanto à água adequada para o consumo humano, isto é, é necessário informar as pessoas dos riscos reais que existem para a saúde quando consomem água sem tratamento.
A falta de legislação em torno das águas de nascentes naturais constitui uma das principais responsáveis pela má qualidade destes recursos hídricos.
Este estudo foi feito em quatro fontanários do conselho de Beja, apesar da amostra não ser representativa do concelho é de se esperar que a grande maioria dos fontanários não possui qualidade adequada para consumo humano.
Conseguimos chegar à conclusão de que como futuros Técnicos de Saúde Ambiental, cabe-nos a nós trabalhar tanto para o aumento do controlo sobre estas águas impróprias para consumo, como também para a educação das pessoas, de forma a incutir hábitos e boas práticas não só no que toca ao consumo de água própria, como também para outras temáticas relacionadas com a saúde pública.

NOTA: Após a conclusão do trabalho, as Juntas de Freguesia dos respectivos fontanários foram avisadas com o resultado das análises e com a chamada de atenção para a importância de colocação de placas com o aviso de que aquela água é imprópria para consumo e onde a empresa EMAS se disponibilizou para o fornecimento das mesmas.


Fontes:

EMAS Laboratório
MENDES, Benilde; OLIVEIRA, J.F. Qualidade da água para consumo humano. Lisboa: LIDEL, 2004

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