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sábado, 7 de dezembro de 2013

Vigilância Sanitária de Água para consumo humano

Entende-se por água para consumo humano, "toda a água no seu estado original, ou após tratamento, destinada a ser bebida, a cozinhar, à preparação de alimentos, à higiene pessoal, ou a outros fins domésticos, independentemente da sua origem e de ser fornecida a partir de uma rede de distribuição, de um camião ou navio-cisterna, em garrafas ou outros recipientes, com ou sem fins comerciais", e "toda a água utilizada numa empresa da indústria alimentar para fabrico, transformação, conservação ou comercialização de produtos ou substâncias destinados ao consumo humano, assim como a utilizada na limpeza de superfícies, objectos e materiais, que podem estar em contacto com os alimentos, excepto quando a utilização dessa água não afecta a salubridade do género alimentício na sua forma acabada" (Decreto-Lei nº 306/2007, alíneas a) e b) ).

O Decreto-Lei nº306/2007 determina, também, o regime de qualidade da água fornecida pelas entidades gestoras com destino ao consumo humano, cabe então à autoridade de saúde assegurar a vigilância da água de forma periódica, e avaliar o possível risco para a saúde humana.

Esta vigilância, passa por um conjunto de ações direcionadas para a avaliação da qualidade da água e por consequência, prevenir o riscos que esta possa apresentar para a saúde pública. Deve, portanto, ser disponibilizada a toda a população uma água sadia, limpa bem como equilibrada em termos de composição.

A atuação do Técnico de Saúde Ambiental foca-se essencialmente em três vertentes:

Higio-sanitária e tecnológica: desenvolve avaliações das condições de higiene e segurança das instalações e funcionamento e a analise das medidas de gestão e manutenção da qualidade da água e dos equipamentos.
Analítica: esta vertente reúne a realização de análises complementares ao PCQA (Programa de Controlo da Qualidade da Água) e de outras ações necessárias para a avaliação da qualidade da água para consumo humano e ainda a colheita de amostras para uma análise (microbiologia, físico-química, ou outra) posterior e verificação do cumprimento do programa de controlo da qualidade da água que vai ser distribuída.
Epidemiológica: com esta vertente, permite-nos obter uma comparação e interpretação da informação adquirida através dos programas, com recurso a dados e caracterização do estado de saúde dos utilizadores, sendo a necessidade e a definição destes estudos da competência das autoridades de saúde de acordo com cada realidade local.

Para determinar a qualidade da água distribuída para consumo humano, é necessário realizar vários tipos de análises:
Análise de Campo (AC) - esta análise avalia os parâmetros cloro residual, pH e ainda temperatura.
O cloro residual deve estar no intervalo de 0,2 a 0,6 mg/L, para um intervalo de pH entre os 6,5 e 9. Estes parâmetros são avaliados in loco.
Análise Micriobiológica (AM) - com esta análise, obtemos valores para parâmetros microbiológicos, parâmetros que são o número de Escherichia coli (E. coli) e de Enterococos por 100 ml de amostra. O valor paramétrico para ambos é de 0/100 ml.
Análise Físico-química (AFQ) - esta análise tem como objetivo determinar parâmetros físico-químicos.

Figura 1 - Parâmetros Físico-químicos para a água destinada ao consumo humano


Quanto aos procedimentos adequados para as recolhas de água, deve-se ter em atenção as recomendações da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), que visa complementar o que está previsto no Decreto-Lei nº 306/2007.
Como tal, seguem-se as recomendações para que seja feita a recolha de uma amostra válida e sem estar corrompida:

   Análise Microbiológica
- Desinfectar as mãos (ex: álcool);
- Escolher uma torneira, preferência por uma de água fria;
- Se possível, retirar os acessórios externos e adaptados à torneira;
- Desinfectar a torneira com o flamejador;
- Abrir a torneira e deixar a água escorrer durante cerca de 5 a 10 segundos, no fluxo máximo, e reduzir o fluxo e deixar correr para que possa ser eliminada a interferência do desifectante e da alta temperatura de flamejamento;
- Sem fechar a torneira, deve-se recolher a amostra em frasco estéril com tiossulfato de sódio com a tampa do frasco virada para baixo, garantido desta forma as melhores condições de assepsia;
- Para evitar contaminações, garantir que o frasco estéril só deverá estar aberto pelo período de tempo estritamente necessário, para a recolha da amostra;
- Identificar todos os frascos de forma individual, com etiquetas próprias;
- Colocar os frascos das amostras, em malas térmicas, com acumuladores de frio, de modo a garantir a correcta refrigeração das amostras até a sua entrega no laboratório, para posterior análise da água.

   Análise Fisico-Quimica
- Escolher uma torneira, preferência por uma de água fria;
- Se possível, retirar os acessórios externos e adaptados à torneira;
- Sem qualquer tipo de escoamento prévio , abrir a torneira para recolher o primeiro litro de água estagnada num frasco preparado para a análise de metais. Esta amostra, obrigatoriamente de 1 litro, é então utilizada para a análise de metais pesados (chumbo, níquel e cobre) na água estagnada. Na colheita de amostras onde não se pretende analisar metais pesados, dispensa-se esta etapa, passando de imediato para a seguinte;
- Abrir a torneira e deixar correr a água cerca de 5 a 10 segundos, com fluxo máximo, reduzir então o fluxo e deixar correr neste estado;
- Sem fechar a torneira, recolher a amostra num frasco próprio para esta análise, com a tampa do frasco virada para baixo, garantido desta forma as melhores condições de assepsia;
- Identificar todos os frascos de forma individual, com etiquetas próprias;
- Colocar os frascos das amostras, em malas térmicas, com acumuladores de frio, de modo a garantir a correcta refrigeração das amostras até a sua entrega no laboratório, para posterior análise da água.



Em nota de curiosidade, de acordo com uma notícia do Diário de Notícias e "segundo dados da OMS, 16 % da população do continente europeu, equivalente a 140 milhões de pessoas, não têm acesso a sistemas de abastecimento e tratamento de água, enquanto 85 milhões - 10% dos europeus -, continuam privados de redes de saneamento.
Em Portugal, os números são mais animadores. No que diz respeito a saneamento básico, 68 % da população encontra-se ligada a redes de drenagem, apesar de apenas 46% ver os seus esgotos tratados, o que representa, respectivamente, 6,8 e 4,6 milhões de indivíduos. Quanto ao abastecimento de água, 90 % dos portugueses - nove milhões de pessoas - tem acesso a redes de água potável. No entanto, existem numerosos aglomerados, com baixos índices populacionais, onde a água que bebem não provém da rede pública, sendo muitas vezes consumida com perfeito desconhecimento da sua qualidade. No total do continente europeu, embora 877 milhões de indivíduos tenham acesso a água em condições para consumo, ainda há 41 milhões (5% da população) sem acesso assegurado a água potável. De acordo com os dados da OMS, estes indicadores dizem respeito, maioritariamente, aos países da Europa de Leste."

Como tal, é relevante, estarmos cada vez mais atentos a esta temática de forma a que a qualidade de água consumida venha a melhorar significativamente, pois segundo a mesma notícia "doenças como a cólera, a malária, infecções intestinais matam milhares de pessoas todos os anos. Outras maleitas, não mortais, podem provocar incapacidades. É o caso do traucoma, uma doença da visão, provocada por uma bactéria contraída ao lavar o rosto. No mundo, existem 500 milhões de pessoas em risco, mas 146 milhões estão, neste momento, à beira da cegueira.
As diarreias, incluindo a cólera, provocam a morte a 1,8 milhões de pessoas todos os anos, a maioria das quais crianças com menos de cinco anos. Também a malária continua a vitimar impiedosamente. Todos os anos, a doença do mosquito, que se reproduz nas águas paradas, tira a vida a 1,3 milhões de cidadãos. Destes, 90%, ainda não atingiram os cinco anos de vida."



Fontes utilizadas:

- Decreto-Lei nº 306/2007, disponível em:

- "Água contaminada mata 13 mil crianças na Europa", disponível em:

- Recomendações da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), disponível em:

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